quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Novos ares

(...) quando avistou de cima das nuvens a cidade de Paris, foi impossível segurar as lágrimas. De felicidade. De supra certeza.
Enfim pousaria depois de longas horas de voô. Não conseguira pregar os olhos um segundo sequer, ficara pensando em tudo que acontecera nos últimos anos...
Ao pegar o táxi no aeroporto, pediu, num inglês ruim, que a deixasse bem no início da Champs Élysées.
Queria caminhar por toda a avenida. E caminhou. Depois, entrou num pequeno bistrô; pediu um croissant e um café expresso. Pensou. Refletiu. Chorou novamente; lágrimas de renovação!
Há tempos precisava dessa viagem e agora seria pra nunca mais voltar.
Mudou do Brasil, ela já não aguentava mais ver tanta sacanagem em seu país. Era do tipo patriota, acredita?
Escolheu a França: desde criança tinha fascínio pela Torre Eiffel e pelo idioma francês. Largou o emprego. Talvez agora aquele curso de fotografia que fizera na adolescência serviria pra alguma coisa. Largou as mesmas ruas e esquinas que sempre caminhava. Queria dar passos mais calmos. Deixou pra trás os poucos amigos que tinha, mas eram leais até o último segundo.
Pensou em tudo. Nos amores perdidos, nas saudades e no sonho agora concretizado. Precisava respirar novos ares.
Coincidência ou não, como que divinamente, no bistrô tocava "Je ne regrette rien". Riu e o coração acelerou. Gostou especificamente da parte que diz:
"Non... rien de rien...
Non... je ne regrette rien
C'est payé, balayé, oublié,
Je me fous du passé!"


Sabe quando o coração parece sair pela boca? Quando uma euforia incomensurável toma conta da alma?
Bebeu o café lentamente, queria apreciar cada gole de sua nova vida; e o vento soprava suave. Uma serenidade ímpar e transcedental tomou conta daquele instante, era como se Deus estivesse aplaudindo orgulhoso sua corajosa decisão de mudar de vida. Talvez Ele estivesse...
Talvez Ele de fato aplauda quem toma certas atitudes...

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