quinta-feira, 24 de março de 2011

BLUES

"Everyday I Have The Blues"
Memphis Slim no piano, Willie Dixon, T-Bone Walker e Caldonia no vocal.

Pra refletir

"Não se revoltarão enquanto não se tornarem conscientes, e não se tornarão conscientes enquanto não se rebelarem."  - George Orwell

segunda-feira, 21 de março de 2011

Segunda-Feira


Tonight - Ozzy Osbourne

Now I'm back out on the streets again
It never rains unless it pours
Try to get back on my feet again
I hear the raging thunder as it roars
Tonight, tonight is it just a rhapsody
Or am I right
Tonight, tonight is it all a mystery
I just can't fight no more
I hear the questions surface my mind
Of the mistakes that I have made.
Times and places have left behind
And am I ever gonna make the grade
Tonight, tonight is it just a rhapsody
Or am I right
Tonight, tonight is it all a mystery
I just can't fight no more
As I beat my head against the wall
Running around in circles in vain
I'm feeling three foot tall
You don't understand I'm fading away
Don't want your pity or your sympathy
It isn't gonna prove a thing to me
Good intentions pave the way to hell
Don't worry when you hear me sing
Tonight, tonight is it just a rhapsody
Or am I right
Tonight, tonight is it all a mystery
I just can't fight no more

sexta-feira, 18 de março de 2011

Dois lados de uma paixão chamada futebol

O termômetro marcava 38° e a moleza no corpo não deixava dúvida: Febre! E em plena segunda-feira.
Não achou ruim, afinal de contas no dia anterior seu time de coração havia perdido uma dura batalha; 3x2 fora o placar final.-"Injusto" foi a palavra que mais repetiu desde o apito do árbitro.
Tinha ido assitir ao jogo na arquibancada, pois um duelo daqueles merecia. Foi uma tarde de domingo linda na cidade de São Paulo, o ingresso estava em mãos há pelo menos 15 dias de antecedência e a surrada camisa de glórias passadas saia enfim do fundo da gaveta. Estádio lotado, a coisa mais linda do mundo era ver aquilo; 70 mil vozes entoando coros de adoração e disputando cada centímetro do palco. Na hora do hino nacional via-se brio e garra na face de cada um dos 22 eleitos como titulares para aquela peleja; viu também o roupeiro de seu time acendendo uma vela para Nossa Senhora Aparecida junto ao banco de reservas - sim, nessas horas vale tudo!
O jogo, ou melhor, o espetáculo foi disputadíssimo: 2x2 até os 46 do segundo tempo, quando após uma bola lançada no meio da área, a bandeirinha - uma morena com lindas pernas - não viu um impedimento claro e se omitiu; o juizão validou o gol adversário: 3x2 a sentença.
Talvez fora as emoções do jogo que o tenham deixado de cama naquela segundona, mas se tivesse ido trabalhar seria alvo de gozação o dia todo pelos camaradas do escritório. Poderia argumentar que havia sido um jogo bom para os dois lados, que houve um erro crucial que decidiu a partida... bobagem! Todos sabem que após a guerra, não se premia os combatentes e sim e somente os vitoriosos.
Sabia de uns remédios caseiros "receitados" pela sua avó, mas não fazia cultivo de tais plantas milagrosas a que se fazia necessário. Resolveu tomar um Dipirona, simples e prático. Pensou em ir até o consultório médico pegar um atestado, mas não queria justificar sua ausência; há tempos não matava um dia. O amargor do remédio foi doce como mel em comparação a amargura do dia passado.
Ligou a TV e se ajeitou no velho sofá para ver os comentários pós "Hiroshima" quando se deparou com uma cena emblemática: uma apresentadora muito gostosa "comentando" sobre o duelo. Aquilo foi sarcasmo demais para o pobre e combalido torcedor, mudou de canal. Outra gostosa com um lindo decote discorrendo sobre o assunto. Riu e começou a refletir sobre o que havia se tornado os programas esportivos da TV brasileira; aquilo era sim um colírio para qualquer macho que se preze, inclusive até já havia procurado fotos de ambas nuas; em vão."-Ah se eu fosse diretor de TV", brincou.
Tinha certeza que para estar ali, estavam sim sendo comidas por alguém do alto escalão da respectiva emissora, não achava concebível qualquer outra possibilidade.
Lembrou com nostalgia da época em que com seu time na segunda divisão, ouvia Fiori Giglioti "Abrem-se as cortinas e começa o espetáculo", Zé Silvério "Agora eu vou soltar a minha voz..." e tantos outros.
Não poderia esquecer de Armando Nogueira e Nelson rodrigues, com quem havia aprendido a amar o futebol romântico após ler "A Pátria em Chuteiras", mas eram outros tempos. Sabia muito bem que essa modernização das transmissões e colocação de delícias para apresentar programas esportivos era uma tendência que veio pra ficar; imaginou se daqui a 30, 40, 50 anos veria algum livro publicado por alguma dessas beldades do jornalismo do esporte bretão, aí então soltou uma gargalhada. Aquele momento o termômetro marcava 37°; a febre havia baixado, e já estava melhor disposto. Continuou a assistir a papagaiada, como classificou os comentários femininos e simplesmente deixou rolar, ao término do noticiário
ainda recebeu um beijo virtual de uma das apresentadoras e pensou ter sido crítico demais às gurias, era só mais uma cria do sistema, all right man!
Ironias a parte, levantou-se e foi até o quarto onde havia deixado jogada a farda do dia anterior ainda suja de suor e lágrimas. Colocou-a no cesto de roupas de lavar, amanhã seria outro dia. Sempre é. Vida que segue...

quarta-feira, 16 de março de 2011

Mundo Careta S/A

Estive pensando como esse mundo anda careta. Já não se transgride nenhuma regra, já não há mais revoluções nem revoltas, contestações ao que aí está então nem se fala. Tudo muito mais ou menos, atitudes que não provocam ódio nem paixão, tudo muito sério; como disse o poeta: "Viver tem que ser pertubador". Acho que a população mundial deve ter se tornado racional demais e quando digo isso me refiro a agir somente pela razão. Talvez tenhamos nos esquecido de ouvir o coração. O que mais se vê hoje em dia nos quatro cantos são pessoas de espírito morno, que para se manter em um emprego, relação amorosa ou qualquer coisa que lhe exija um mínimo de reação radical, simplesmente veem o que é melhor financeiramente ou mais confortável e se acomodam. Talvez nos falte um verão do amor, como aquele de 68.
Porra, cadê aquela energia pertubadora peculiar aos jovens?A vontade de mudar, a força reacionária, a rebeldia... Hoje temos uma geração que nasceu da década de 90 pra cá perdida no que se diz respeito a atitudes anárquicas. Eu aqui no meu mundinho utópico tenho a plena certeza de que isso foi arquitetado e é interessante para quem está no poder, e sem contar com esse bando de retardados mentais que se vestem de colorido e ouvem esse tal de happy rock; ah que saudades da revolta, protesto e dedo na ferida do rap nacional até meados da década de 90, da efervescência do rock nacional e do movimento punk dos anos 80! Dias atrás vi pichado num muro: "Antigamente era sexo, drogas e rock n' roll... hoje em dia é punheta, ice e restart" Gênio!
E as nossas leis? Daqui uns dias teremos de pedir permissão até pra respirar! A lei anti-fumo que foi implantada aqui em São Paulo embora benéfica para os não fumantes é uma baita censura aos fumantes, penso que ninguém é obrigado a fumar por tabela, mas também sou contra a esse tratamento de leprosos na época de Cristo que é dado aos fumantes.
Uma amiga minha acredita que essa juventude 110 volts dos tempos atuais se deve ao fato de não terem motivo para protestar; ponto de vista ao qual eu discordo plenamente, basta olhar pro lado e ter senso crítico. Se bem que senso crítico pra essa geração deve ser decidir entre Justin Bieber e essa merda de sertanejo que tomou conta do país. Prefiro um mundo ligado no 220, exagerado como a vida deve ser! Vai fumar um baseadinho? - "Maconheiro, drogado.. cadeira elétrica nele!"
Onde estão as greves nas portas de fábrica, as passeatas, os movimentos estudantis tal qual na época da ditadura? Pode-se até dizer: "São outros tempos" -História pra boi dormir! Tudo amornou, exatamente como quem esta lá em cima quer. Conseguiram bitolar uma geração.
E o sexo? Acho que a única coisa que não encaretou foi o sexo, hoje a liberdade sexual é propagada aos montes. Ufa, ainda bem!
Guardada as devidas proporções, seria essa geração pós anos 80 uma espécie de geração yuppie brasileira, e os hippies, os militantes da contracultura seriam seus pais ou a geração nascida até a década de 80? Talvez, só sei que daqui do meu caleidoscópio sem lógica vejo um mundo careta pra cacete ao qual me leva a um tédio sem igual.
Termino com Jack Kerouac, um dos maiores poetas da geração beat que certa vez escreveu:

"Aqui estão os loucos. Os desajustados. Os rebeldes. Os criadores de caso. Os pinos redondos nos buracos quadrados. Aqueles que vêem as coisas de forma diferente. Eles não curtem regras. E não respeitam o status quo. Você pode citá-los,discordar deles, glorificá-los ou caluniá-los. Mas a única coisa que você não pode fazer é ignorá-los. Porque eles mudam as coisas. Empurram a raça humana para frente. E, enquanto alguns os vêem como loucos, nós os vemos como geniais. Porque as pessoas loucas o bastante para acreditar que podem mudar o mundo, são as que o mudam." - Jack Kerouac

terça-feira, 15 de março de 2011

Sobre nomes e suas aparências

- Nunca vim nesse bar e peguei uma cerveja quente...
- É... aqui sempre tá no ponto!
- Tava pensando, você não acha que "Programa do Gugu" é um nome extremamente gay pra um programa de TV?
- Hahahahahaha... Claro que é meu!Bicha demais!E o interessante é que ninguém para pra pensar nisso.
- Imagina "Programa do Gugu"... e lembra uma época em que ele ficava cantando aquela música do pintinho amarelinho?
- Lembro, hahahaha, ficava mais gay ainda!
- Pelo menos nisso o Faustão se sobressai, o programa do cara é "Programa do Faustão, é mais macho..rs.
- Que observação hein cara, falta do que fazer leva a isso!
- Hahahaha, verdade... o ócio destrói a mente!
- ...
Pediram mais uma cerveja e uma dose de Velho Barreiro com limão e brindaram "à muitas mulheres para aquele início de ano"!

domingo, 13 de março de 2011

Aqueles olhos...

"Working from seven to eleven every night
It really makes life a drag, I don't think that's right"

Era a terceira vez que tocava a mesma música. Ele havia acordado com uma supra vontade de ouvir um Led aquele dia quantas vezes fosse possível, e aquela melodia de "blues pra fazer amor" mais a letra irremediavelmente nostálgica, lhe fizeram apertar o repeat e deixar rolar enquanto fervia a água pra passar o café. Foi até a janela. A visão naquele andar não era das melhores, mas por aquele preço não podia reclamar. O tempo ajudava. Era uma tarde de um daqueles típicos domingos de outono: pouco sol e uma brisa suave no rosto. Preocupou-se só em acender o cigarro e cerrar os olhos. Pensava na vida, que diga-se de passagem não havia sido muito grata até então; se teria se dado melhor, ou se teria sido mais fácil se fosse tão filho da puta como uns caras que conhecia e que estavam numa boa. Mas definitivamente não tinha vocação pra ser esse tipo de gente. Pensou nos pais, há tempos devia uma visita que durasse mais de uma hora; pensou nos amigos, que não eram muitos mas profundamente leais; lembrou até da filha do síndico, uma ninfeta deliciosa que há dias ele bolava um plano mirabolante pra comê-la.
-"Foda!" suspirou quase que lamentando. Eram dias ruins aqueles, ou como gostava de dizer eram dias desleais. Havia metido o pé no trampo na semana anterior, achava injusto ter que trabalhar aos fins de semana por um salário medíocre e ainda por cima ser subordinado de um playboy puxa-saco visivelmente gay. Não que tivesse algo contra os gays, até os achava engraçados com suas peculiaridades. Certa vez um deles o apresentou à uma amiga e teve uma noite inesquecível, mas fazia questão de frisar que não devia favores por tal ato.
Na mesa de centro, o jornal cravava a data do dia anterior. Pegou e foi aos classificados ver se havia algum emprego digno sem playboys-puxa-sacos-boiolas, mas antes deu uma passada nos quadrinhos.
Era fascinado pelas tirinhas de "Hagar-O Terrível". Na página anterior lia-se uma coluna social assinada por uma madame qualquer que não tinha o que fazer e falava sobre festas da high society paulistana; nunca havia lido, mas naquela falta do que fazer resolver passar os olhos. Uma inauguração de uma badalada casa noturna era a bola da vez. Entre fotos dos frequentadores, modelos contratadas e artistas do primeiro escalão.Uma em especial lhe chamou a atenção: já havia visto aqueles olhos antes!
-"Não pode ser... será?" - falou consigo mesmo.Sim, era ela!
-"Porra, será que ela voltou a modelar?" Parecia não acreditar, mas sua pupila já dilatada e o coração acelerado não permitiam tal dúvida. Aí se deu conta que aquela com quem havia trocado juras de amor, amantes daquele "beijo punk" e dividido inúmeras mesas de bar havia  reaparecido em sua vida. O fim dos dois tinha sido aqueles do tipo "a gente se vê por aí..." quando por medo ou covardia de dizer um sonoro adeus, deixa-se chegar no ocaso dos sentimentos pela dolorosa ação do tempo. Levantou meio desnorteado pela visão que tivera, aquela altura do campeonato não era um bom momento para tais lembranças afetivas; mas quem disse que tem hora pra isso acontecer? Foi até a cozinha, a água havia fervido e enquanto passava o café ficou remoendo as noites que passaram juntos, e aqueles verdes olhos... Em contraste, caia na real
e se lembrava da atual situação financeira e profissional, que não faria inveja nem a um morador de rua. Tentou matar aquela lembrança, se recordando de tantas outras garotas que haviam passado por sua vida depois dela, das viagens, das porra louquices; mas aqueles olhos verdes teimavam em vir em sua mente. De súbito, pensou em aceitar aquele trabalho com seu tio no interior. - "Seria bom pra esfriar a cabeça" pensou. Lembrou de um amigo que certa vez, bêbado, lhe disse que numa situação dessas a melhor coisa a se fazer é mudar de cidade, de bairro, de país! Mas não, isso já seria covardia. Fugir de algo, por pior que fosse nunca foi de seu feitio. Achou melhor não adoçar o café daquela vez. Pegou o fatídico jornal e amassou-o - não sem dar uma última olhada - lançou-o no lixo junto a caixa de pizza da noite passada e cascas de banana prata. Encheu a velha xícara com um café mais forte que o normal, voltou a sala e ouviu a última estrofe que dizia:
"Baby, since I've been loving you
I'm about to lose, I'm about lose to my worried mind"

Desligou. Não queria mais ouvir nada. Acendeu outro cigarro e deu um gole no café. Olhou pela janela, nada havia mudado, ainda era outono...

Deus, um de nós?

Eram cinco pessoas rindo ao mesmo tempo, o bêbado insistia “tá premiada, tá premiada!” e isso só fazia os caras rirem mais ainda. Um deles ainda chegou a dizer “Acredita nele! Olha a barba branca, é Deus te dando uma chance!” e os amigos cairam na risada. No som do buteco tocava Joan Osborne – One Of Us mas ninguém notou a ironia divina.
Os números marcados na mega-sena do cachaço eram 05 – 15 – 43 – 48 – 52 – 55 e ele jurava que tinha o bilhete premiado. Não queria muito, R$ 5,00 pra fazer caridade, mas os caras mandaram o bêbado passear. Só de sacanagem foram até uma casa lotérica e jogaram, combinaram de não usar os números do bêbado para não terem que repartir o prêmio com um cachaceiro.
Foram pra casa. Na manhã seguinte começaram a ligar um pro outro. O prêmio tinha saído, alguém estava muito rico e todos sabiam quem era. Será que o bêbado era somente um bêbado ou realmente Deus dando uma chance de mudança de vida? Eles nunca mais saberiam a resposta. Eles só sabiam do tamanho da cagada. Eu estaria chorando até agora.