domingo, 24 de julho de 2011

Menina

Era a terceira vez que ela tentava sem sucesso tirar a tão sonhada carteira de habilitação. Já havia até visto alguns planos para financiar um 1.0 Flex, 0 Km... carro da moda, mas o nervosismo na hora do exame final acabava por dar em "merda" como ela mesmo dizia.
Não se abalava. Contava a quem puxasse assunto que "ficava nervosa e ria descontroladamente" quando sentava frente ao volante. Dizia isso tudo rindo graciosamente. Tinha calma ao relatar essa sua batalha. E eu via claramente serenidade em seus traços; talvez ela soubesse - ainda que no inconsciente - que a vida estava só brincando como uma criança traquina com a pobre menina. Era uma menina ainda, 20 e poucos anos. Mas se fazia passar por mulher, afinal ás vezes se faz necessário. Ia trabalhar de tênis, não gostava de salto alto e adorava dormir até tarde. Tinha sonhos! Queria se formar em Farmácia, mas não sabia ainda o porquê.
Numa sexta feira o namorado ligou e disse pra marcarem de sair naquela noite e de súbito ela inventou um trabalho da facul; queria ficar em casa. Queria colocar as músicas mais porra-loucas do Cazuza e deixar rolar... Ligar pras amigas e fazer brigadeiro de panela. Pintar o cabelo de rosa e as unhas de amarelo. Fofocar bastante pra depois colocar seu pijama rosa e ir deitar satisfeita de si.
Ela acordava sorrindo, como só quem abraça a vida sente e vivia feliz sem ser habilitada.

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