sexta-feira, 18 de março de 2011

Dois lados de uma paixão chamada futebol

O termômetro marcava 38° e a moleza no corpo não deixava dúvida: Febre! E em plena segunda-feira.
Não achou ruim, afinal de contas no dia anterior seu time de coração havia perdido uma dura batalha; 3x2 fora o placar final.-"Injusto" foi a palavra que mais repetiu desde o apito do árbitro.
Tinha ido assitir ao jogo na arquibancada, pois um duelo daqueles merecia. Foi uma tarde de domingo linda na cidade de São Paulo, o ingresso estava em mãos há pelo menos 15 dias de antecedência e a surrada camisa de glórias passadas saia enfim do fundo da gaveta. Estádio lotado, a coisa mais linda do mundo era ver aquilo; 70 mil vozes entoando coros de adoração e disputando cada centímetro do palco. Na hora do hino nacional via-se brio e garra na face de cada um dos 22 eleitos como titulares para aquela peleja; viu também o roupeiro de seu time acendendo uma vela para Nossa Senhora Aparecida junto ao banco de reservas - sim, nessas horas vale tudo!
O jogo, ou melhor, o espetáculo foi disputadíssimo: 2x2 até os 46 do segundo tempo, quando após uma bola lançada no meio da área, a bandeirinha - uma morena com lindas pernas - não viu um impedimento claro e se omitiu; o juizão validou o gol adversário: 3x2 a sentença.
Talvez fora as emoções do jogo que o tenham deixado de cama naquela segundona, mas se tivesse ido trabalhar seria alvo de gozação o dia todo pelos camaradas do escritório. Poderia argumentar que havia sido um jogo bom para os dois lados, que houve um erro crucial que decidiu a partida... bobagem! Todos sabem que após a guerra, não se premia os combatentes e sim e somente os vitoriosos.
Sabia de uns remédios caseiros "receitados" pela sua avó, mas não fazia cultivo de tais plantas milagrosas a que se fazia necessário. Resolveu tomar um Dipirona, simples e prático. Pensou em ir até o consultório médico pegar um atestado, mas não queria justificar sua ausência; há tempos não matava um dia. O amargor do remédio foi doce como mel em comparação a amargura do dia passado.
Ligou a TV e se ajeitou no velho sofá para ver os comentários pós "Hiroshima" quando se deparou com uma cena emblemática: uma apresentadora muito gostosa "comentando" sobre o duelo. Aquilo foi sarcasmo demais para o pobre e combalido torcedor, mudou de canal. Outra gostosa com um lindo decote discorrendo sobre o assunto. Riu e começou a refletir sobre o que havia se tornado os programas esportivos da TV brasileira; aquilo era sim um colírio para qualquer macho que se preze, inclusive até já havia procurado fotos de ambas nuas; em vão."-Ah se eu fosse diretor de TV", brincou.
Tinha certeza que para estar ali, estavam sim sendo comidas por alguém do alto escalão da respectiva emissora, não achava concebível qualquer outra possibilidade.
Lembrou com nostalgia da época em que com seu time na segunda divisão, ouvia Fiori Giglioti "Abrem-se as cortinas e começa o espetáculo", Zé Silvério "Agora eu vou soltar a minha voz..." e tantos outros.
Não poderia esquecer de Armando Nogueira e Nelson rodrigues, com quem havia aprendido a amar o futebol romântico após ler "A Pátria em Chuteiras", mas eram outros tempos. Sabia muito bem que essa modernização das transmissões e colocação de delícias para apresentar programas esportivos era uma tendência que veio pra ficar; imaginou se daqui a 30, 40, 50 anos veria algum livro publicado por alguma dessas beldades do jornalismo do esporte bretão, aí então soltou uma gargalhada. Aquele momento o termômetro marcava 37°; a febre havia baixado, e já estava melhor disposto. Continuou a assistir a papagaiada, como classificou os comentários femininos e simplesmente deixou rolar, ao término do noticiário
ainda recebeu um beijo virtual de uma das apresentadoras e pensou ter sido crítico demais às gurias, era só mais uma cria do sistema, all right man!
Ironias a parte, levantou-se e foi até o quarto onde havia deixado jogada a farda do dia anterior ainda suja de suor e lágrimas. Colocou-a no cesto de roupas de lavar, amanhã seria outro dia. Sempre é. Vida que segue...

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